
Kleper Reis
Nascido em Corumbá, o artista Kleper Reis, de 38 anos, trabalha em suas performances e artes com polêmica escancarada, foi em Salvador Pelo nome da exposição, a gente já percebe o tamanho do escândalo que foi instalado em 2018: "Cu é Lindo" no Goethe-Institut, uma série de imagens e frases refletem sobre a desnaturalização das relações sociais relacionadas a sexualidade e gênero.

Ele saiu de Corumbá aos 4 anos de idade, junto com seus pais por motivos profissionais, e desde aí já notava sua inclinação para as artes, fez curso livre de teatro na UFBA e depois estudou teatro na Universidade do Rio de Janeiro.
Porém foi com a performance “Cu é Lindo” que o artista se fez conhecido, trazendo a uma sala imagens que demonstram o ânus de forma que o naturalizassem. Ainda que informado na porta ser proibido para menores de 18 anos, à época os conservadores, apoiados pelo MBL, fizeram protestos até que fossem fechados os circuitos. Porém ficando até o fim de sua exposição.
De acordo com o próprio artista, "a exposição é a revelação de uma vida em ação que está se realizando e consequentemente se curando. Desdobra-se na liberdade de amar e no acolhimento familiar".
Como já se era de esperar, haveria tumulto:"Tenho consciência da força e relevância de minha obra artística. Minha vida na arte é marcada por censura e falta de apoios financeiros. Trabalho em uma região delicada e muito necessária. Lido com as sombras da sociedade. Meu trabalho tem sangue, suor, inspiração, sêmen, estudo, pesquisa científica e valentia," diz.
São sete anos de trabalho para finalmente a exposição ficar pronta, por isso, ele diz ser óbvio que a intenção não foi polemizar, pois é mais sensível que isso. Trata-se de uma manifestação criativa dos caminhos do imaginário de Kleper.
"É o espaço onde todas estas possibilidades de comunicação e integração e viver bem se encontram e se influenciam mutuamente. Sou eu, Kleper Reis, contando a minha história de vida através de alguns suportes artísticos. Compartilho minhas memórias afetivas e derramo o meu amor".
Além do nome, em letras garrafais, uma cortina com fuxicos coloridos abre alas para a instalação gratuita do artista. As portas brancas abrem feito janelas, convidando o público a adentrarem naquele universo público-particular. Cheia de fotografias, desenhos, mensagens, colagens e frases, a primeira impressão que se tem é que havia muita informação. Até no chão tinham papéis espalhados e, no centro, garrafas de vidro quebradas e missangas de colares.
Entre um desenho e outro, Boletins de Ocorrência (BO) revelam algumas das situações que ele vivenciou. Todos crimes de origem homofóbica. Depois, também há frases religiosas e até um ebó. Fotos dele praticando yoga se misturam com espelhos, que se faz questionar sobre o nosso papel diante disso tudo: “Voltar ao passado para ressignificar o presente e o futuro”, escrito ali no meio. A essa altura, os pênis e ‘cus’, que aparecem em outras cenas de formas mais discretas, já estão mais que naturalizados. Nem mesmo uma animação, com várias pessoas mostrando o ânus, em uma TV grande, choca.
Wemerson Prazeres, 23, estudante de artes visuais, por sua vez, chegou assim que eu estava saindo, por volta de 12h20. “Vim porque sei que é uma afronta. Ultimamente, com o cenário atual conservador, é preciso falar sobre o nosso corpo e questionar padrões. Essa exposição é apenas um pequeno passo pra gente avançar”, opinou.