
Ventura Profana
Filha das entranhas misteriosas da bahia mãe, batizada em óleo de dendê e ungida pelas mãos pentecostais das varoas, sou a missionária Ventura Profana que ministra um clamor em favor das vidas dissidentes, estranhas, monstras, reivindicando através do terreno da fé a restituição do direito de existirmos em plenitude de vida.
É assim que Ventura Profana se apresenta, nascida em 1993 na cidade de Salvador na Bahia, a artista problematiza os efeitos sociais, culturais e políticos dos processos de tradução e interpretação de textos bíblicos, que para a artista foram historicamente apropriados por projetos políticos de embranquecimento populacional e concentração de poder. A artista propõe a disputa por outras narrativas como a de corpos dissidentes, não hegemônicos e não-normativos. Afirmando a si mesma como um corpo apocalíptico, defende a ressignificação e a apropriação do milagre como potência de vida. Intitulada Tabernáculo da Edificação, e em sua proposta para o programa Bolsa Pampulha de 2018/2019, envolve estudos e redesenhos de mobiliários geralmente encontrados em Igrejas, assim como a gravação de um clipe em que possa professar, em alto e bom tom, suas palavras de salvação.
Ventura conta que: Em “Cânticos dos Cânticos”, performance de 35 minutos, eu misturo as músicas clássicas crentes brasileiras com versículos da Bíblia. O trabalho denuncia o projeto evangélico de destruição de vidas TLGBQ. Essa performance é extraída do trabalho “O reino é das bichas”, uma sátira religiosa em favor das vidas LTQBGs e que foi feita originalmente pra denunciar o projeto de “moralização do poder político” do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, pastor pentecostal e inimigo da população queer. No entanto, o potencial desse trabalho não se limita ao diálogo com as instituições.

Eu canto em adoração à Deusa Travesti: “eu não vou morrer”. Esta performance é, acima de tudo, um clamor por socorro, justiça e restituição: parem de nos matar!!! É um resgatde de vestígios de uma educação evangélica, criando um paralelo entre o genocídio à TLGBs e a crucificação de Cristo.