Uýra Sodoma
A árvore que anda
A drag queen da Amazônia brasileira, Emerson Munduruku, faz suas performances usando sementes de ramagens e outros materiais da natureza para pedir mais proteção aos recursos naturais.
Seu trabalho ficou conhecido quando conquistou o primeiro lugar no concurso Rival Rebolado, de drag queens em 2017. A maquiagem utilizada tem sempre elementos vindas da natureza. Sua transformação pode chegar a durar por volta de duas horas já que sua arte pode contar com ramagens, sementes, conchas, folhas e flores.
Uýra é apresentada como “uma entidade em carne de bicha e planta” cujo processo de transformação é feito principalmente com materiais orgânicos, tornando sua aparência uma identidade e à natureza ao seu redor como uma Árvore que Anda e se faz ouvir.
“A Uýra existe na cidade, me frequenta de vez em quando. Quando digo ‘me frequenta’ é porque eu me ‘monstro’ de Uýra. Dentro das comunidades, com os jovens, geralmente sou eu, Emerson. Eventualmente, a Uýra aparece”, diz o artista.
Emerson Munduruku é biólogo, com passagens pela academia científica, mas hoje trabalha como arte-educador de adolescentes e jovens de comunidades ribeirinhas: “Usando as suas histórias [dos ribeirinhos] e a floresta como inspiração, a gente vai criando arte”, afirma.
O Alterego nasceu em 2016, seguindo um momento de transformação pessoal do biólogo,. Durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, diversas manifestações artísticas tomaram conta de Manaus e Emerson passou a buscar a sua maneira de contribuir com o debate.
"O Brasil estava vivendo um golpe. Houve muitas manifestações artísticas em toda Manaus, e eu me perguntava como acrescentar outras perspectivas ao meu trabalho. Era decisivo que Uýra existisse", explicou Emerson.
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Ela anda montada pelas ruas e pelo transporte público de Manaus movimentando o debate sobre a conservação ambiental e os direitos LGBT. Para quem é de longe, seus ensinamentos podem ser acompanhados através do Instagram.
"Passei seis anos da minha vida trabalhando com sapos e lagartos (...) e um dia me agrediram ao sair de um bar por usar batom e delineador nos olhos. Ali senti na pele a violência. Comecei a me aproximar das mulheres, dos travestis, a entender mais sobre racismo, sobre LGBT-fobia. Eu me conectei com a cidade e com as pessoas", contou.
"Essas mudanças todas impulsionaram a existência de Uýra, e Uýra impulsionou minha vida. Ela me faz feliz, me fez lidar melhor com meu corpo e as pessoas e todos os meus desejos e angústias", explicou Emerson, que não acredita em gêneros. "Tanto faz, masculino, feminino, só preciso que me tratem com respeito".
"Vivemos um desmonte apelidado de reforma em todos os campos da sociedade brasileira, desmonte de articulações positivas, de direitos conquistados. A gente vive uma época de grave violência, terras e reservas indígenas que estão ameaçadas de invasão por acordos empresariais", alerta, mudando o tom de voz.
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Indagado sobre o futuro, Emerson sorri de novo e diz: "Embora o cenário de caos pareça só aumentar, vejo muito verde e esperança".
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