

URIAS
Urias é uma artista mineira de 24 anos, conta que sua adolescência foi dura em Uberlândia, muitas vezes apontada, achincalhada e agredida, porém ainda assim a artista guarda consigo boas lembranças da época ao lado de sua amiga Pabllo Vittar.
A Urias já se via como cantora desde o tempo em que “brincava” de cantar com a Pabllo pelo campus da Universidade Federal de Uberlândia, onde fazia tradução, porém enquanto Vittar enveredava pelo caminho da música, Urias seguia o caminho da moda como modelo fotográfica e de passarelas.

Mais nova a cantora se arriscou como uma drag alienígena (sempre muito excêntrica em suas escolhas) com uma cabeça gigante, uma estrutura e peruca como auxílios, no entanto não era bem isso ainda o que queria.
Se inspirando em sua amiga, Urias começou despretensiosamente lançar covers de música no YouTube, “Vê-la com certeza me inspirou. Não só a mim, como ao Brasil inteiro, no sentido de ‘vá atrás dos seus sonhos, não deixa ninguém te falar não’.

Sendo sempre a criança diferentona da família, que recebia olhares tortos na escola, sempre perseguida pelos valentões, Urias demorou alguns anos a se entender e se descobrir/aceitar como transexual. Mas ela contou com grande privilegio muito negado às pessoas trans: apoio familiar, teto e claro a possibilidade de uma carreira profissional fora das ruas.
“A transexualidade é apontada como errada. Você cresce com aquilo na cabeça: ‘Não posso ser isso, todo mundo fala que é ruim, que é mau’. Hoje, eu me imponho numa onda de muita segurança, porque se você se mostrar abalada, as pedradas te acertam. E a gente aprende a lidar com os olhares tortos por uma questão de sobrevivência”.

Neste meio tempo, viu que a carreira de modelo não seria um bom investimento e começou lançar seus covers, a começar por meu mundo é o barro, do grupo O Rappa, ela conta que foi feito sem compromisso mas que deu muito certo. Sem conhecer ninguém da área para ajudá-la a gravar e compor suas próprias músicas, de começo não se sentia confiante em si mesmo quanto compositora e tinha medo de passar vergonha.
Sua primeira música autoral foi Diaba, com clipe caprichado, com varios figurinos, sensuais e exóticos, seu maior desejo era realmente lançar algo estranho, que fugisse um pouco do que vem sendo lançado atualmente no mercado musical. “E muita gente me ajudou, inclusive no próprio clipe de “Diaba”. O Hodari me ajudou muito na letra, foi por causa dele que passei a entender e verdade como é escrever uma composição.”

no clipe Urias chega a um bar, bem sensual, mostrando como é um corpo trans, onde todos sentem algum tipo de emoção que precisa ser feito algo no agora, vezes querendo tocar vezes querendo destruir. “O que eu quis dizer é que o corpo trans mexe com o sentimento de desejo, mas também toca num lugar de muita raiva nas pessoas que ainda não entendi.”
Para este EP Urias recebe inclusive ajuda da Linn da Quebrada onde após se apresentar como o oitavo pecado capital, pergunta: ''Não consegue ver que da sua família eu sou pilar principal?" Que segundo ela em conversa com Linn sobre os pilares escondidos da família brasileira serem o álcool e a travesti.

“Hoje em dia, olho pra trás e vejo que não cresci como uma gay afeminada, mas sim como uma mulher trans que ainda não tinha se descoberto. E é meio que colocado como natural você ser LGBTQ e sofrer. Por isso, me anestesiava das coisas ruins para não ficar muito triste, mas sempre tive amigos que deram força.”
